Um dia, o
mundo amanheceu todo cinza e triste. As árvores, as casas, as ruas e os carros, todos ficaram da cor cinza. Parecia
que o sr. Vento tinha soprado pó de cimento sobre todas as coisas.
Quando a
menina acordou, olhou pela janela e ficou assustada por ver o mundo tão feio.
Então
perguntou para o sol o que devia fazer, mas o sol era apenas uma luzinha amarela,
muito fraquinha no céu cinzento, e respondeulhe com uma voz baixinha, vinda lá
de cima dizendo:" Ah, menina, você tem pintar o mundo de novo!".
Ela
apressouse para lavar os dentinhos, o rosto e, ainda antes de comer e ir para
a escola, quis deixar o mundo bonito outra vez.
Buscou dentro
da gaveta da sua mesa do quarto a caixa de lápis de cor, foi à janela para ver
bem como era o mundo, voltou para a mesa e desenhou tudo numa folha de papel.
Depois começou a colorir o mundo.
Fez a casa da
frente azul outra vez, e a sua boneca voltou a ter cabelos vermelhos como tinha
antes do mundo mudar de cor. Também pintou bem branquinho, como um floco de
neve, um cachorrinho viralata que sempre passava muito sujo, para parecer que
tinha tomado banho. Assim, talvez mamãe a deixasse trazêlo para o quintal e
brincar com ele.
Depois foi
pintando as árvores, os carros de todas as cores, as flores dos jardins, uma de
cada cor, o céu de azul muito bonito, e o sol de amarelo muito forte e
brilhante, como era antes.
E tudo o que a
menina desenhava no papel, ia mudando lá fora na rua, deixando de ser cinza e
ficando colorido como no desenho. Mas logo a menina ficou muito cansada, porque
o mundo era muito grande e tinha muitas coisas para pintar. Ela tinha de ir
para a escola, já estava atrasada e não podia pintar mais.
E ela chorou,
chorou, até aparecer uma borboleta mágica, que voava para cá e para lá, e que
tinha todas as cores do mundo reunidas nas suas asas.
"Voa
comigo, que eu te ajudo a pintar!", disse a borboletinha.
"Mas eu
não posso voar", lamentouse a menina.
Foi então que
a borboleta teve uma idéia: bateu as asas rapidinho, para chamar todos os
animais do jardim. Logo chegaram o esquilo serelepe, a abelha zumzum, os passarinhos
piupiu e as lagartixas correcorre. O último a chegar foi o cágado molenga,
muito dorminhoco, que de vez em quando parava, encolhia as patinhas para dentro
da carapaça, escondia a cabeça e tirava um cochilo.
Foi uma
confusão na janela, porque todos queriam entrar no quarto, e falavam todos ao
mesmo tempo. A menina, coitadinha, não sabia o que fazer.
Como ninguém
escutava, ela subiu em cima do banco de pedra e começou a gritar: "atenção,
atenção", e quando todos fizeram silêncio, a dona Coruja sabetudo, que era
a mais sábia, lá do alto da árvore, explicou como fariam para ajudar a menina a
pintar o mundo. Distribuiu tarefas a todos e explicou que, se todos fizessem a
sua parte, o mundo ficaria bonito outra vez.
"Você,
abelha, chama todas as suas irmãs para irem pintar todas as flores, porque vocês
já voam sempre, de flor em flor, vai ser muito fácil, não é ? E vocês conhecem todas
as cidades e são muito rápidas. Para você lagartixa, vou pedir que pinte os muros,
as paredes das casas e as ruas."
O esquilo logo
se adiantou: " e eu? e eu?" . "Você, meu amiguinho, vai pintar
os troncos das árvores e todos os lugares onde conseguir entrar, porque você é
muito esperto!".
Sem nem
precisar mandar, os passarinhos já foram pegando os lápis com os biquinhos e
bateram as asinhas voando para colorir as folhas das árvores e as nuvens, lá no
alto, onde só mesmo os passarinhos chegam.
A menina
correu para a escola, aflita porque já estava atrasada e nesse dia havia coisas
muito bonitas para aprender.
Mas os
animaizinhos continuaram a colorir o mundo.
E assim foi o
dia inteiro. Pintaram, pintaram, até tudo ficar colorido de novo.
E quando o sol
já estava se recolhendo, amarelinho que era uma beleza de ver, a menina chegou
da escola e deitouse no gramado verdinho, feliz por tudo estar tão bonito.
Olhava o céu, as nuvens branquinhas, as flores em redor, quando uma vozinha
baixinha e arrastada a chamou:
“Ei cuidado
comigo!”
A menina levou
um susto e procurou no meio da grama quem estava gritando. Era a joaninha
pequenina, tão vermelhinha de bolinhas pretinhas, debaixo da folhinha de grama.
“Você?
Desculpa, não estava te vendo, amiguinha. Suba aqui no meu braço para eu ver
como são lindas as suas cores.”
A joaninha
veio depressa e subiu, e fez questão de contar: “quem me pintou foi cágado
molenga, com um pincel bem pequeninho”
“você ficou
bonita!”
Aos poucos os
animais foram chegando e sentando perto da menina e da joaninha, para
descansar.
O mundo já
estava todo colorido de novo.
O jardim ficou
cheio de flores, com som de abelhas e passarinhos, e os esquilos pulando por
todo lado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário