23 junho, 2015

Colorindo o Mundo

Um dia, o mundo amanheceu todo cinza e triste. As árvores, as casas, as ruas e os  carros, todos ficaram da cor cinza. Parecia que o sr. Vento tinha soprado pó de cimento sobre todas as coisas.
Quando a menina acordou, olhou pela janela e ficou assustada por ver o mundo tão feio.
Então perguntou para o sol o que devia fazer, mas o sol era apenas uma luzinha amarela, muito fraquinha no céu cinzento, e respondeu­lhe com uma voz baixinha, vinda lá de cima dizendo:" Ah, menina, você tem pintar o mundo de novo!".
Ela apressou­se para lavar os dentinhos, o rosto e, ainda antes de comer e ir para a escola, quis deixar o mundo bonito outra vez.
Buscou dentro da gaveta da sua mesa do quarto a caixa de lápis de cor, foi à janela para ver bem como era o mundo, voltou para a mesa e desenhou tudo numa folha de papel. Depois começou a colorir o mundo.
Fez a casa da frente azul outra vez, e a sua boneca voltou a ter cabelos vermelhos como tinha antes do mundo mudar de cor. Também pintou bem branquinho, como um floco de neve, um cachorrinho vira­lata que sempre passava muito sujo, para parecer que tinha tomado banho. Assim, talvez mamãe a deixasse trazê­lo para o quintal e brincar com ele.
Depois foi pintando as árvores, os carros de todas as cores, as flores dos jardins, uma de cada cor, o céu de azul muito bonito, e o sol de amarelo muito forte e brilhante, como era antes.
E tudo o que a menina desenhava no papel, ia mudando lá fora na rua, deixando de ser cinza e ficando colorido como no desenho. Mas logo a menina ficou muito cansada, porque o mundo era muito grande e tinha muitas coisas para pintar. Ela tinha de ir para a escola, já estava atrasada e não podia pintar mais.
E ela chorou, chorou, até aparecer uma borboleta mágica, que voava para cá e para lá, e que tinha todas as cores do mundo reunidas nas suas asas.
"Voa comigo, que eu te ajudo a pintar!", disse a borboletinha.
"Mas eu não posso voar", lamentou­se a menina.
Foi então que a borboleta teve uma idéia: bateu as asas rapidinho, para chamar todos os animais do jardim. Logo chegaram o esquilo serelepe, a abelha zum­zum, os passarinhos piu­piu e as lagartixas corre­corre. O último a chegar foi o cágado molenga, muito dorminhoco, que de vez em quando parava, encolhia as patinhas para dentro da carapaça, escondia a cabeça e tirava um cochilo.
Foi uma confusão na janela, porque todos queriam entrar no quarto, e falavam todos ao mesmo tempo. A menina, coitadinha, não sabia o que fazer.
Como ninguém escutava, ela subiu em cima do banco de pedra e começou a gritar: "atenção, atenção", e quando todos fizeram silêncio, a dona Coruja sabe­tudo, que era a mais sábia, lá do alto da árvore, explicou como fariam para ajudar a menina a pintar o mundo. Distribuiu tarefas a todos e explicou que, se todos fizessem a sua parte, o mundo ficaria bonito outra vez.
"Você, abelha, chama todas as suas irmãs para irem pintar todas as flores, porque vocês já voam sempre, de flor em flor, vai ser muito fácil, não é ? E vocês conhecem todas as cidades e são muito rápidas. Para você lagartixa, vou pedir que pinte os muros, as paredes das casas e as ruas."
O esquilo logo se adiantou: " e eu? e eu?" . "Você, meu amiguinho, vai pintar os troncos das árvores e todos os lugares onde conseguir entrar, porque você é muito esperto!".
Sem nem precisar mandar, os passarinhos já foram pegando os lápis com os biquinhos e bateram as asinhas voando para colorir as folhas das árvores e as nuvens, lá no alto, onde só mesmo os passarinhos chegam.
A menina correu para a escola, aflita porque já estava atrasada e nesse dia havia coisas muito bonitas para aprender.
Mas os animaizinhos continuaram a colorir o mundo.
E assim foi o dia inteiro. Pintaram, pintaram, até tudo ficar colorido de novo.
E quando o sol já estava se recolhendo, amarelinho que era uma beleza de ver, a menina chegou da escola e deitou­se no gramado verdinho, feliz por tudo estar tão bonito. Olhava o céu, as nuvens branquinhas, as flores em redor, quando uma vozinha baixinha e arrastada a chamou:
“Ei cuidado comigo!”
A menina levou um susto e procurou no meio da grama quem estava gritando. Era a joaninha pequenina, tão vermelhinha de bolinhas pretinhas, debaixo da folhinha de grama.
“Você? Desculpa, não estava te vendo, amiguinha. Suba aqui no meu braço para eu ver como são lindas as suas cores.”
A joaninha veio depressa e subiu, e fez questão de contar: “quem me pintou foi cágado molenga, com um pincel bem pequeninho”
“você ficou bonita!”
Aos poucos os animais foram chegando e sentando perto da menina e da joaninha, para descansar.
O mundo já estava todo colorido de novo.
O jardim ficou cheio de flores, com som de abelhas e passarinhos, e os esquilos pulando por todo lado.

Só quem ainda trabalhava era a borboletinha. Pousada numa caixa de lápis, ela sacudia as asinhas e coloria cada um deles, para que depois pudessem pintar todos os desenhos que as crianças fazem.

(conto infantil que inicia uma série de histórias para crianças)
(foto Poetas Trabajando)


Nenhum comentário:

Postar um comentário