23 janeiro, 2015

O Nascimento

Eles seguiam devagar em meio à agitação febril da rua. Destoavam das pessoas apressadas que entravam e saíam das lojas, carregando sacolas de presentes com as últimas compras natalinas. O seu ritmo mais lento de caminhar parecia incomodar um pouco os outros, que aceleravam o passo para ultrapassá-los como se tivessem receio de lhes tocar.
Depois de dias procurando emprego naquela cidade, tinham sido obrigados a deixar a pequena pousada onde estavam, e saído à procura de um outro lugar para ficar. O homem amparava a mulher grávida, oferecendo-lhe apoio a cada parada, e um sorriso de incentivo quando recomeçava a caminhar.
Desde aquela manhã ela sentia dores, e estava assustada com proximidade do nascimento do seu primeiro filho. Já era quase meia noite quando ela pediu para parar.
Olhando em redor, ele a conduziu através de algumas caixas de madeira, e palets abandonadas, na entrada de um beco próximo. Rápidamente ele improvisou um abrigo, esmagando algumas caixas de papelão grandes para ela ter onde reclinar-se. Depois empilhou caixas contra o vento frio, e o ruído que vinham da rua. E algumas sacas velhas, rasgadas, emprestavam alguma intimidade àquele recanto do beco onde, ele sabia, o milagre da vida não demoraria a acontecer.
O dia terminava, e a escuridão trouxe consigo uma pequena fogueira que alguém acendeu. Pouco depois, uma velha senhora surgiu oferecendo uma tigela de sopa.   Aos poucos, outras pessoas que ali se abrigavam foram aparecendo. O pequeno beco revelava-se, agora.
Uma luz fraca acendeu-se, numa janela alta, iluminando mais um pouco. De uma porta que se abriu dos fundos de um restaurante, vieram toalhas limpas. De algum outro lugar, uma velha manta de lã somou-se ao momento.
Enquanto isso, na rua as pessoas passavam indiferentes, desconhecendo o que ali se passava, e a harmonia fraterna que se estabelecia, como um laço natural entre os que dividem dores e dificuldades. Quando a hora do nascimento chegou, deram-se as mãos silenciosamente, em uma expectativa sincera pela nova vida que acontecia.
O bebê chegou com os primeiros raios do sol, e seu choro alto e forte ecoou pelas paredes do beco. Foi colocado em uma pequena caixa de papelão, sob os olhares dos pais felizes e emocionados.

E quando os sinos da igreja, na rua ali ao lado, convocaram os fiéis para a primeira missa do dia, os moradores do beco já estavam ajoelhados e fazendo uma prece pelo pequeno recém-nascido, que trouxera consigo a alegria da vida, e reunira em si as esperanças de tantos com bom coração.

Era Natal novamente.



(Este Conto faz parte do ebook E QUE VIVA O NATAL, coletânea, vários autores. Edição Especial, 1a. Edição, Helena Frenzel Ed., Dezembro de 2014. 

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