24 janeiro, 2015

Tomás

Tomás tinha crescido naquele lugar. Perdera os pais ainda muito criança, e depois dos primeiros anos em um orfanato da igreja, fora acolhido pela família.
No início se escondia entre as prateleiras, ouvindo as conversas do dono com os compradores, mas era muito tímido para falar com qualquer um deles. Depois de alguns meses, Señor Manuel passou a ensiná-lo pequenos serviços: entregas na vizinhança, limpeza da loja, e finalmente como armazenar as caixas de mantimentos no armazém.
Com o passar dos anos tinha se tornado o principal ajudante, e além dos serviços de entrega, também ajudava no jardim da Señora. Com ela aprendera a ler e escrever o próprio nome, além de umas poucas palavras, e as contas mais simples, úteis para a loja.
Era de pouca conversa, mas estava sempre disposto para o trabalho, e muito apegado à família. Não se lembrava dos pais, ou mesmo de como fora abandonado, mas tinha enorme respeito pelo Señor Manuel e desmonstrava sempre muita lealdade.
Quando chegara a idade de se casar, o Señor Manuel tinha autorizado que construísse a sua própria casa em um terreno que pertencia à hacienda. Naquela casinha, o peão Tomás, começara a sua família.
Naquela tarde, o sol já se escondia quando ele voltou à cidade. Cavalgara desde manhã muito cedo, e estava cansado mas contente.
Chegou apressado, coberto da poeira da estrada, e ansioso para finalmente terminar a missão que o patrão lhe tinha dado. Antes mesmo de entrar na grande loja do Señor Manuel, abriu a bolsa de couro e tirou o envelope destinado ao patrão.  Subiu rapidamente os degraus da entrada, batendo as botas, como sempre fazia.
Tomás tinha percorrido várias haciendas naquele dia, e nas conversas com os peões entendera o teor da carta que havia levado a cada uma delas:  a moça Rosarito, sobrinha de seu patrão, seria a professora das muitas crianças da região.
Essa notícia tinha se espalhado rapidamente entre as famílias, e todos estavam eufóricos e agradecidos. Tomás percebera tudo isso com uma agitação interna, e ansiedade. Lembrava como fora dificil aprender a ler o pouquinho que sabia, sem escola e sem professora. Queria melhor para os seus filhos, e Rosarito podia fazer muito pelos meninos.
Quando colocou o envelope nas mãos do patrão, baixou a cabeça respeitoso e saiu após de conversarem um pouco.  Depois de tratar do cavalo, pegou o  caminho até sua casa. Sua esposa o esperava de mãos dadas com os filhos, e ele tinha muito o que contar.
Pensou em pedir ao patrão autorização para se juntar aos outros nos trabalhos de reforma, e, quando estivesse pronta, seria ele que levaria a professora até à sua Escola.
Um sentimento de orgulho o invadiu, ao  pensar nos filhos, e no quanto ele cavalgara para que  essa Escola fosse mais que um projeto. Apressou o passo.
Quando a noite de Natal chegou, ajoelhados diante do presépio da propriedade, agradeceu a Deus por seus  melhores presentes: a esperança de um futuro melhor para as crianças, e a grande bondade do Señor Manuel. Sentiu-se tocado pelos bons sentimentos do Natal, com cada um fazendo a sua parte, em um laço de solidariedade e respeito ao próximo.



(Continuação dos contos "El Niño Jacinto" do escritor Jorge Sierra, e "El Señor Manuel" do escritor Henrique Mendes, publicados no site Poetas Trabajando)

Um comentário:

  1. Olá, Soraya. Eu gosto muito deste conto que vc desenvolveu na continuidade do conto do Jorge Sierra e do meu, pelo Natal. Para quem estava começando, ficou muito bom, e parece ser uma promessa bem evidente de que grandes coisas virão por aí. Espero que sim e faço votos que sua escrita melhore sempre e sempre lhe dê muitas alegrias. Um abraço.

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