24 janeiro, 2015

O Passeio

Assim que amanheceu, depois de tomar o café forte e sem açúcar, pegou o velho chapéu de couro e desceu pelo pomar, até o velho paiol. Encontrou facilmente o laço de corda, que jogou por sobre o ombro e tomou o rumo do pasto, à beira do pequeno riacho. Os dois cães o seguiram, acostumados ao significado do assobio do dono, sempre que tomava aquela direção.

Voltou meia hora depois. Trouxe consigo a égua Paloma, a mais mansa da fazenda, e a prendeu com a corda no tronco da grande mangueira do quintal.
Estudou o céu claro de domingo. “Manhã de Deus, o menino vai gostar”, conversava com si mesmo.

Começou a rotina que conhecia bem, de escovar e preparar o animal para montaria. Ele mesmo a tinha adestrado, desde potrinha nova, e tinha com ela uma atenção especial. Poucos sabiam que a égua tinha nascido no mesmo dia que seu primeiro neto, e por isso tinha sido escolhida para ser  sua  primeira montaria hoje, no aniversário de 5 anos. Tinha o pelo castanho e brilhante, crina comprida quase dourada, e quando corria pelo campo era vista de longe, por causa das patas brancas que se destacavam no verde do chão.

Depois de escová-la, colocou a manta grossa e prendeu bem a sela . Tomou cuidado em colocar os arreios, e também em regular a altura certa dos estribos, para que os pequenos pés do garoto tivessem apoio e segurança. “Vê como se comporta, viu Paloma?”, falou alto. Paloma balançou a cabeça em resposta, mostrando os olhos vivos e brilhantes, como se entendesse a importante missão do dia.

Pouco tempo depois, viu o neto chegar. Vinha de mãos dadas com a mãe, falante e alegre, entusiasmado com a grande aventura.  Apesar de tão pequeno, vinha vestido com camisa e calças compridas, botas até o joelho e um belo chapéu. “Parece um cowboy”, pensou o avô. Tinha no rosto um sorriso contagiante, próprio das crianças. Ao ver a montaria preparada arregalou os olhos, e instantaneamente procurou os braços do avô.

Ele o recebeu no colo com carinho, e chegando bem perto da cabeça de Paloma, pediu que o menino conversasse antes com a égua, e lhe fizesse um carinho, pois assim ficariam amigos. Também o lembrou de tratá-la sempre bem, para que ela o levasse em segurança. Receoso a princípio, mas confiante no avô, o garoto afagou a crina, e a cabeça do animal. “Agora monte, mocinho!”.

Saíram pelo quintal, avô na frente puxando o cabresto, e o neto firme e corajoso sobre a Paloma. Conversaram sobre cavalos e meninos. O neto ficou sabendo que cavalos eram fortes e inteligentes, e podiam correr pelo campo. “Igual na televisão, vovô?” “Sim, igual na televisão”. Também aprendeu que bastava bater com as perninhas, e a égua acelerava o passo, ou então, se puxasse as rédeas, ela parava de imediato.
As perguntas não tinham fim, e a cada resposta do avô um mundo fantástico era descoberto pelo neto. Ali, no alto da montaria, já tinha esquecido dos desenhos animados e jogos eletrônicos, e aprendia com o avô uma nova linguagem: “eia Paloma, upa, upa...”.

No fim do passeio, antes de descer, o garoto enlaçou o pescoço da égua: “obrigado Paloma, você me carregou direitinho!”. Ao avô, deu uma recomendação: “quando você estiver com saudade, é só pedir para a Paloma te levar correndo pra me ver...”

Mais tarde, levando a égua de volta ao pasto, o homem foi pensando nas grandes alegrias que tivera naquele dia. Ensinara ao neto coisas simples, aprendidas ao longo da vida, e então o escutara rindo.
Nada se igualava à risada de uma criança montando o seu primeiro cavalo ...


(desenho criado pelo site Poetas Trabajando)

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