Assim que
amanheceu, depois de tomar o café forte e sem açúcar, pegou o velho chapéu de
couro e desceu pelo pomar, até o velho paiol. Encontrou facilmente o laço de
corda, que jogou por sobre o ombro e tomou o rumo do pasto, à beira do pequeno
riacho. Os dois cães o seguiram, acostumados ao significado do assobio do dono,
sempre que tomava aquela direção.
Voltou meia
hora depois. Trouxe consigo a égua Paloma, a mais mansa da fazenda, e a prendeu
com a corda no tronco da grande mangueira do quintal.
Estudou o céu
claro de domingo. “Manhã de Deus, o menino vai gostar”, conversava com si
mesmo.
Começou a
rotina que conhecia bem, de escovar e preparar o animal para montaria. Ele
mesmo a tinha adestrado, desde potrinha nova, e tinha com ela uma atenção
especial. Poucos sabiam que a égua tinha nascido no mesmo dia que seu primeiro
neto, e por isso tinha sido escolhida para ser
sua primeira montaria hoje, no
aniversário de 5 anos. Tinha o pelo castanho e brilhante, crina comprida quase
dourada, e quando corria pelo campo era vista de longe, por causa das patas
brancas que se destacavam no verde do chão.
Depois de
escová-la, colocou a manta grossa e prendeu bem a sela . Tomou cuidado em
colocar os arreios, e também em regular a altura certa dos estribos, para que
os pequenos pés do garoto tivessem apoio e segurança. “Vê como se comporta, viu
Paloma?”, falou alto. Paloma balançou a cabeça em resposta, mostrando os olhos
vivos e brilhantes, como se entendesse a importante missão do dia.
Pouco tempo
depois, viu o neto chegar. Vinha de mãos dadas com a mãe, falante e alegre,
entusiasmado com a grande aventura.
Apesar de tão pequeno, vinha vestido com camisa e calças compridas,
botas até o joelho e um belo chapéu. “Parece um cowboy”, pensou o avô. Tinha no
rosto um sorriso contagiante, próprio das crianças. Ao ver a montaria preparada
arregalou os olhos, e instantaneamente procurou os braços do avô.
Ele o recebeu
no colo com carinho, e chegando bem perto da cabeça de Paloma, pediu que o
menino conversasse antes com a égua, e lhe fizesse um carinho, pois assim
ficariam amigos. Também o lembrou de tratá-la sempre bem, para que ela o
levasse em segurança. Receoso a princípio, mas confiante no avô, o garoto
afagou a crina, e a cabeça do animal. “Agora monte, mocinho!”.
Saíram pelo
quintal, avô na frente puxando o cabresto, e o neto firme e corajoso sobre a
Paloma. Conversaram sobre cavalos e meninos. O neto ficou sabendo que cavalos
eram fortes e inteligentes, e podiam correr pelo campo. “Igual na televisão,
vovô?” “Sim, igual na televisão”. Também aprendeu que bastava bater com as
perninhas, e a égua acelerava o passo, ou então, se puxasse as rédeas, ela
parava de imediato.
As perguntas
não tinham fim, e a cada resposta do avô um mundo fantástico era descoberto
pelo neto. Ali, no alto da montaria, já tinha esquecido dos desenhos animados e
jogos eletrônicos, e aprendia com o avô uma nova linguagem: “eia Paloma, upa,
upa...”.
No fim do
passeio, antes de descer, o garoto enlaçou o pescoço da égua: “obrigado Paloma,
você me carregou direitinho!”. Ao avô, deu uma recomendação: “quando você
estiver com saudade, é só pedir para a Paloma te levar correndo pra me ver...”
Mais tarde,
levando a égua de volta ao pasto, o homem foi pensando nas grandes alegrias que
tivera naquele dia. Ensinara ao neto coisas simples, aprendidas ao longo da
vida, e então o escutara rindo.
Nada se
igualava à risada de uma criança montando o seu primeiro cavalo ...
(desenho criado pelo site Poetas Trabajando)
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