23 janeiro, 2015

Pássaro

De dentro da gaiola, o pequeno pássaro olhava triste a chuva mansa além da janela.
Ainda era madrugada, e na luz  tímida ele se encolhia silencioso.
Deixou que a imaginação o tomasse, para fugir daquela injusta armadilha.
Em um movimento passou pela chuva e ganhou as nuvens.
Se viu maior, asas abertas, a plumagem cinzenta e branca se agitando enquanto ganhava o céu de forma rápida e firme. Notou que se fortalecia a cada impulso, se transformava.
Tornou-se gaivota.
De cima viu a praia, as ondas quebrando em uma areia alva e a imensidão do mar...

Um ponto indefinido se deslocava no horizonte. Um pequeno barco.
Impôs-se o desafio de alcançá-lo em meio a inconstância das ondas e barreira do vento.
Já próximos, pássaro e barco se reconheceram como parte da mesma paisagem e inseparáveis numa busca sem fim. Não voltariam mais ao mesmo porto, nem pássaro, nem barco.
A consciência dessa liberdade foi inebriante, e chegou de forma inesperada. Foi tão essencial que mesmo em sonho apenas, ainda mera possibilidade, já trazia satisfação.

E quando os primeiros raios de sol aqueceram a gaiola, o pássaro, de volta, cantou feliz.
Afinal era um novo dia, e já não chovia...





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